COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sábado, 22 de setembro de 2012

ONG É ACUSADA DE DESVIAR VERBAS


REVISTA ÉPOCA - 21/09/2012 22h28 - Atualizado em 21/09/2012 22h29


ONG que trata usuários de crack é acusada de desviar verba

Parceira da prefeitura do Rio de Janeiro no programa de internação de viciados, a ONG Tesloo está sob suspeita de irregularidades


Um dos mais controversos programas de combate ao crack completará um ano e meio de atividade. Adotado pela prefeitura do Rio de Janeiro, em maio de 2011, como resposta ao avanço de uma epidemia com graves impactos sociais, é o único no país que prevê internação compulsória de menores viciados. O caso do Rio conta com o apoio do governo federal e é apontado como inspiração para programas de combate ao crack em todo o Brasil – país que lidera o consumo de cocaína fumada no mundo, segundo uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

SUPERFATURAMENTO Um menor viciado em crack  é recolhido numa rua do  Rio de Janeiro. Uma investigação do Tribunal de Contas do Município (acima) aponta irregularidades num  contrato de R$ 9,5 milhões  (Foto: Fábio Teixeira/Ag. O Globo)

Boa parte dos recursos municipais destinados ao programa está indo para a conta de uma ONG suspeita de superfaturar compras e de não executar parte dos serviços, de acordo com o Tribunal de Contas do Município (TCM) e com fiscais da própria prefeitura. A gravidade das suspeitas levou o Ministério Público do Rio de Janeiro a instaurar um inquérito para investigar o caso. A ONG chama-se Casa Espírita Tesloo. Fundada em 2002 por Sergio Pereira de Magalhães Junior, um PM reformado, com sede em Magalhães Bastos, na Zona Norte do Rio, tornou-se a principal parceira da prefeitura carioca na área social. A entidade administra três dos quatro abrigos municipais usados para o acolhimento compulsório de viciados, mas sua atuação vai além do crack. Desde 2005, a Tesloo assinou convênios que somam R$ 80 milhões. Pelo menos metade já foi paga à entidade. Essa profícua parceria com o Poder Público não aparece na página da ONG na internet. Nela, lê-se que toda doação é bem-vinda, pois a Tesloo diz que não recebe “nenhum subsídio garantindo a continuidade dos serviços por nós prestados à comunidade”.

Nos serviços prestados à comunidade com recursos públicos, a Tesloo falha. ÉPOCA teve acesso a um relatório sigiloso em que o TCM analisa um contrato de R$ 9,5 milhões, de 2009, e aponta a existência de superfaturamento – envolvendo compra de produtos de limpeza e higiene, além de comida, para as casas de acolhimento mantidas pela ONG. Os fiscais encontraram também notas fiscais irregulares e recibos suspeitos. Outro convênio, de R$ 6 milhões, assinado no ano passado, também apresentou problemas. A Tesloo deveria registrar e atualizar informações de 408 mil famílias no Cadastro Único dos programas sociais do governo federal. Entregou um relatório incompleto, com pouco mais da metade do objetivo cumprido.

Ao visitar os abrigos da Tesloo, em 2009 e 2010, fiscais da Secretaria de Assistência Social relataram um cenário desolador: armários, camas e banheiros quebrados e sujos. Crianças dormiam no chão. A Casa Ser Criança, na Zona Oeste do Rio, não tinha psicólogo. Os fiscais constataram que um dos psiquiatras contratados nunca tinha ido ao abrigo. A internet e o telefone estavam cortados, por falta de pagamento. Em 23 de março de 2010, a coordenação encarregada da Casa Ser Adolescente, abrigo para viciados em Campo Grande, também na Zona Oeste, informou aos fiscais que a Tesloo não repassava os recursos para o bom funcionamento da unidade.

ÉPOCA visitou, no mês passado, a Casa Ser Adolescente. A chácara de um piso, com quartos e mobiliário simples, tem paredes com pintura descascada e janelas gradeadas. A piscina estava suja e sem proteção, como no relato feito dois anos antes por fiscais da prefeitura. Um relatório do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre visitas realizadas nos dias 4 e 5 de setembro revela, em fotos, armários de ferro quebrados e sem portas. O abrigo Bezerra de Menezes, também mantido pela Tesloo e o primeiro visitado pela blitz do Ministério Público, apresentava mato acumulado nos jardins, colchões no chão e privadas sem assento.

Apesar do histórico problemático, a Secretaria de Assistência Social continuou fechando novas parcerias com a Tesloo. Assinou, neste ano, mais quatro convênios, num valor total de R$ 30,2 milhões, terceirizando o atendimento social e centros de acolhimento. Diante da gravidade dos fatos descobertos, o Tribunal de Contas do Município decidiu passar o pente-fino em todos os convênios da Tesloo com a prefeitura. A direção da ONG não respondeu ao pedido de entrevista de ÉPOCA e repassou a demanda à prefeitura. A Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou, em nota, que “as deficiências do atendimento (nos abrigos da Tesloo) foram informadas à Tesloo no dia da fiscalização para as soluções cabíveis” e que esse é “um procedimento de rotina”. Para resolver o problema do superfaturamento nas compras, a Secretaria informa ter fixado limites de preço para a compra de alimentos, uma tentativa de coibir generosidade com dinheiro alheio. Diz ainda que tomará “todas as medidas cíveis e penais, se for o caso”. Que as eventuais irregularidades descobertas não atrapalhem uma causa tão importante quanto o combate à epidemia de crack.
 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

LIBERDADE PARA JOVEM RICA QUE VENDIA ECSTASY

 Imagem apenas ilustrativa do modelo do veículo.
ZERO HORA 19 de setembro de 2012 | N° 17197

DROGAS NA SERRA

Libertada jovem presa com ecstasy


A juíza Sonáli da Cruz Zluhan concedeu liberdade para a estudante (...), 18 anos, presa por tráfico de drogas no sábado, dia 15, em Caxias do Sul, na Serra. A jovem foi flagrada por policiais rodoviários federais a bordo de um Veloster, na Rota do Sol. Os policiais encontraram 24 comprimidos de ecstasy dentro da bolsa de Ketlin.

Ela se reservou ao direito de não se manifestar sobre o caso na Polícia Civil, mas foi autuada por tráfico e encaminhada ao presídio. Até as 19h de ontem, a Penitenciária Industrial não havia recebido o alvará de soltura. Por esse motivo, a estudante permanecia recolhida.

O Ministério Público se manifestou pela manutenção da prisão, mas a juíza entende que a jovem tem residência fixa e não tem antecedentes. Por esses motivos, não representaria risco. Segundo despacho da magistrada, Ketlin não teria motivos para traficar uma vez que “possui poder econômico devidamente demonstrado”.

Ainda conforme a decisão, a prisão temporária se baseou em suposições “sem qualquer comprovação embasada em provas objetivas.” Ketlin deve se apresentar semanalmente na Justiça durante a tramitação do processo. Sonáli ressalta que houve uma busca por drogas na residência da garota, mas nada foi encontrado.

O flagrante se desencadeou após denúncias recebidas pelos policiais rodoviários. A primeira informação dava conta de que uma pessoa havia vendido drogas em uma festa no distrito de Fazenda Souza. Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal se deslocou à rodovia e interceptou o Veloster próximo ao acesso da BR-116 No carro, além da universitária, havia duas adolescentes. Os policiais, conforme o flagrante lavrado, vistoriaram o veículo e encontraram os comprimidos de ecstasy acondicionados numa caixa de balas. Em conversa informal aos policiais rodoviários, a jovem disse que comprava a droga e revenderia a amigos e conhecidos.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Leis liberais + justiça tolerante = traficantes impunes e tráfico compensatório e rico para pilotar um carrão deste aos 18 anos. Urgentemente, o Brasil precisa repensar o Sistema de Justiça Criminal e a legislação, é muito descaso para com a saúde e ordem pública de interesse coletivo da nação brasileira. Não entendi o despacho da digníssima juíza fazendo uma defesa prévia da traficante dizendo que ela "não teria motivos para traficar uma vez que “possui poder econômico devidamente demonstrado”. A juíza ouviu os policiais? Foi investigado o delito?  Por posturas como esta é que defendo a criação urgentíssima de um SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL com juizado de garantia e audiências judiciais para ouvir as partes envolvidas antes de tomar uma decisão desta. O judiciário precisa se envolver mais nas questões de ordem pública e começar a ser coativa, ao invés de mediadora, defensora dos réus e estimuladora da impunidade.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

LONGE DAS AMARRAS DO MANICÔMIO

JORNAL DO COMÉRCIO, 14/09/2012

Vera Lucia Pasini 

Frequentemente nos deparamos com notícias que associam, de forma equivocada e gerando desinformação à população gaúcha, a Lei da Reforma Psiquiátrica a dramas familiares vivenciados pelo crack. O fato vem causando polêmica em diversos setores e entidades comprometidas com as transformações na atenção em saúde e, especificamente, ao tratamento de usuários de álcool e outras drogas. Vale destacar que a Lei da Reforma Psiquiátrica, que neste ano completa 20 anos de sua aprovação, foi uma conquista da população gaúcha e pioneira no Brasil, já que a lei federal foi aprovada somente em 2001, mérito dos trabalhadores da saúde, usuários e seus familiares. Diferentemente do que vem sendo divulgado, a lei foi por duas vezes revisada na Assembleia Legislativa e, novamente, aprovada. No ano de 2010, a IV Conferência Nacional de Saúde Mental, que contou com ampla participação popular, referendou a Reforma Psiquiátrica como diretriz na atenção dos usuários de álcool e outras drogas.

Agora, reacende-se um fantasma por muito tempo discutido e superado: o retorno dos hospitais psiquiátricos como estratégia de atenção, indo na contramão da legislação brasileira e da Organização Mundial de Saúde. Outro equívoco evidenciado é que a lei de 1992 diminuiu os números de leitos psiquiátricos. Os dados do Ministério da Saúde indicam que é o Rio Grande do Sul que tem o maior número de leitos psiquiátricos por habitantes em relação aos outros estados. O que ocorreu a partir da Lei da Reforma Psiquiátrica não foi a extinção de vagas, mas sim o aumento das vagas e a migração dessas localizadas nos grandes e inchados hospitais psiquiátricos para leitos em hospitais gerais, além da criação de uma rede de serviços, antes inexistente, com complexidades de atenção diferenciadas. Existe um consenso nesta polêmica: acorrentar não é o mesmo que tratar. O curioso é que esta é uma frase utilizada pelo movimento de Luta Antimanicomial referindo-se à prática muito comum nos hospitais psiquiátricos.

Presidente do Conselho Regional de Psicologia/RS

DE VICIADA A VOLUNTÁRIA


ZERO HORA 14 de setembro de 2012 | N° 17192

GUERRA À PEDRA

Em 2008, com dois filhos e um longo histórico de consumo de bebida, maconha, cocaína e crack, uma jovem da Capital desistiu de si mesma. Encharcou-se de álcool e ateou fogo.

– O crack me devastou. Eu queria me matar – explica.

Depois de um mês de internação para recuperar-se das queimaduras, a mulher, hoje com 34 anos, começou tratamento para dependência no Hospital Presidente Vargas. Abstinente há três anos, teve um terceiro filho, de um ano e 11 meses, e virou voluntária no projeto do Cpad no Clínicas, ajudando outras mães a lutar contra o vício:

– As pessoas acham que não há solução para elas, como eu achava que não havia para mim. Pegava meu dinheiro e gastava em drogas. Estou comprando apartamento, fazendo autoescola e investindo nos filhos. E o principal foi ter a família de volta.

Ontem, ela foi ao Clínicas com a mãe, de 50 anos. Tempos atrás, as duas nem se falavam. A mãe conta que as decepções haviam sido tantas que não queria mais saber da jovem.

– Minha vontade era nunca mais vê-la. Ela sumia, e tive de ir muito ao DML para ver se não estava entre os cadáveres – conta a mãe.

Outra voluntária do grupo, de 26 anos, começou a usar crack aos 19, quando já tinha uma criança. Aos 22 anos, durante a segunda gravidez, decidiu que precisava vencer a droga.

– Foi o bebê que me motivou. Me dei conta quando comecei a vender tudo para comprar droga, até as roupinhas do meu filho – conta.

A jovem procurou um posto de saúde, que a encaminhou ao Presidente Vargas. Depois de ter o segundo filho, ela passou a ser acompanhada pelo Clínicas, de onde nasceu seu envolvimento no projeto:

– Sou voluntária para mostrar que é possível ter outra vida. Cada dia que vou me fortalece. Às vezes não quero ir, como hoje (ontem). Fui para avisar que não ia participar, mas fiquei.

GRAVIDEZ VIRA ARMA PARA AFASTAR MULHERES DO CRACK

ZERO HORA 14 de setembro de 2012 | N° 17192

GUERRA À PEDRA. Serviço montado no Hospital de Clínicas aproveita elo entre mãe e filho para enfrentar vício da droga

ITAMAR MELO

O vínculo entre mãe e bebê está sendo usado em Porto Alegre como estratégia para afastar da droga mulheres com histórico de consumo de crack – e, como consequência, para proteger seus filhos da pedra. Desde 2011, um serviço montado no Hospital de Clínicas oferece assistência e grupo de apoio a gestantes que enfrentaram problemas de dependência.

Coordenada pelo Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (Cpad) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a iniciativa envolve um projeto de pesquisa sobre como a chegada de um filho pode significar um momento de virada para mulheres assoladas pelo vício.

– Não sabemos o resultado do nosso trabalho, porque ele é mais complexo do que se imagina, mas a maior motivação para a mulher parar de usar o crack é a maternidade – afirma a psiquiatra Maria Lucrécia Zavaschi, coordenadora do projeto no Clínicas.

Uma das principais dificuldades do projeto é atrair as gestantes para os encontros semanais nas manhãs de quinta, realizados no Centro de Atenção Psicossocial do hospital. Apesar de contar com uma rede de contatos que ajuda a encaminhar grávidas ao serviço, só 14 foram acompanhadas até o momento. Desses casos, três são considerados exitosos por Maria Lucrécia.

– São pessoas desamparadas, de lares caóticos, desfeitos pela bebida, que na maioria das vezes já chegam com traumas infantis graves. Muitas relatam que o cheiro da fumaça do ônibus já é suficiente para provocar a fissura. Não é fácil para elas sair do vício, porque o crack é avassalador, mas representamos uma esperança de ajudá-las – afirma a psiquiatra.

O projeto oferece às gestantes atendimento psiquiátrico, psicológico e de assistência social. Na primeira visita, as mulheres são avaliadas. Depois de duas ou três semanas, passam a participar de grupos formados também por voluntárias que viveram o mesmo problema e que conseguiram abandonar a droga com a chegada de um bebê. Também há o estímulo para a participação de parentes.

– Procuramos estimular a criação de vínculo com o bebê desde a gestação, para motivar as mães a parar de usar a droga. Também percebemos que as mulheres que recaíram são aquelas que não tinham suporte familiar, por isso a participação das famílias é importante – diz a psiquiatra Flaviana Dartora, integrante da equipe.

O acompanhamento das gestantes continua após o parto. As mulheres seguem participando, e com frequência trazem seus bebês. O trabalho inclui avaliações da criança, para identificar se ela sofreu prejuízo associado ao uso da droga pela mãe. Flaviana observa que, além de beneficiar a mulher, o projeto também protege os seus filhos:

– No caso de usuárias, muitas vezes a criança é afastada da mãe, o que é pior para os dois. A criança vai para um abrigo, e a mãe, para as drogas.

As pesquisas do Cpad sobre a importância do vínculo entre mãe e filho para superar a dependência também têm um braço no Hospital Presidente Vargas, onde há um grupo que apoia mães usuárias há mais tempo.


Informações
- Profissionais de saúde, parentes ou gestantes interessados no serviço podem fazer contato pelo (51) 9576-9764

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

LEILÃO DE BENS DO TRÁFICO

 
ZERO HORA. 13 de setembro de 2012 | N° 17191

LANCE ACEITO. Bens do tráfico rendem R$ 843 mil em leilão

Valor arrecadado supera esperado na venda de artigos tomados do crimeO leilão de 119 bens apreendidos com traficantes, realizado ontem em Porto Alegre, arrecadou R$ 843,15 mil, valor 128,96% superior ao esperado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), responsável pela venda. O antídoto contra o tráfico foi visto com um sucesso pela secretaria. Este foi o primeiro leilão de bens tomados de traficantes conduzido pelo governo do Estado.

Entre os artigos oferecidos no auditório da Caixa Econômica Federal, estavam carros, caminhões, imóveis, joias e uma sucata de um avião bimotor Azteca. Com um lance inicial em R$ 4 mil, ela foi comprada por R$ 32 mil. Outro destaque foi uma casa localizada em Passo Fundo, que, com lance mínimo de R$ 65 mil, terminou arrematada por R$ 200 mil. O evento reuniu mais de 500 pessoas.

Segundo o diretor do Departamento de Política sobre Drogas da SJDH, Solimar Amaro, o leilão foi uma ação vitoriosa e que aponta novas soluções para um antigo problema.

– A ideia é agilizar cada vez mais esse procedimento e criar a cultura do leilão. O ideal é antecipar o leilão do bem, mesmo antes do julgamento. Assim, evitaríamos a desvalorização desses produtos e o gasto com depósitos terceirizados – afirmou Amaro.

Outra lição apontada pelo diretor é a necessidade de que o Estado tenha um depósito público que, aliado à antecipação do leilão de bens em julgamento, dificilmente ficaria cheio.

Um termo de cooperação, assinado em 2011 pelos governos federal e estadual, Tribunal de Justiça (TJ) e Ministério Público (MP), definiu que a verba obtida nos leilões será revertida em ações contra o tráfico. A maior parte do valor (60%) vai para o Fundo Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas, que deve investir no combate, na prevenção, no tratamento e na reinserção social de usuários. O restante será dividido entre MP, TJ e Senad.

Previsto para março, o leilão passou por inúmeras negociações até que os itens oferecidos fossem liberados em condições de não prejudicar o comprador.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

CHACINA FOI DEMONSTRAÇÃO DE PODER DE TRAFICANTES

10 de setembro de 2012 | 18h 56

Chacina no Rio foi demonstração de poder de traficantes, diz delegada . Operação realizada para tentar encontrar os assassinos dos adolescentes prendeu dois homens com drogas em Mesquita


Clarissa Thomé - Agência Estado




RIO DE JANEIRO - A Polícia Civil acredita que a chacina dos seis jovens em Mesquita, na Baixada Fluminense, foi cometida como uma "demonstração de força" de traficantes que atuam na Favela da Chatuba, próxima ao Parque de Gericinó. Os corpos de seis adolescentes foram encontrados na manhã desta segunda-feira, 10, num canteiro de obras da duplicação da Rodovia Presidente Dutra.

Os jovens não tinham envolvimento com o tráfico de drogas e estavam desaparecidos desde sábado, quando saíram de casa para tomar um banho de cachoeira no parque. Para a delegada Sandra Ornelas, da Delegacia de Nilópolis, os jovens estavam "no lugar errado na hora errada". "Eles não têm passagens pela polícia. Foi uma demonstração de poder dos traficantes para demarcar território", disse a delegada, que classificou o crime como uma "barbárie injustificável".

Amigos de infância e moradores de Nilópolis, cidade da Baixada Fluminense, os adolescentes costumavam ir ao parque nos fins de semana. No sábado, com a demora dos rapazes, o pai de um deles tentou fazer contato pelo celular. O telefone foi atendido por um homem que disse estar "cumprindo uma missão". Em outra ligação, o criminoso disse que ele "deveria fazer outros filhos", porque "aquele já era".

O desaparecimento dos seis jovens - Christian Vieira, de 19 anos; Victor Hugo Costa, Douglas Ribeiro e Glauber Siqueira, de 17; e Josias Searles e Patrick Machado, de 16 - foi registrado na 57.ª Delegacia de Polícia (Nilópolis). Na manhã desta segunda, os corpos foram encontrados por operários que trabalham na duplicação da Dutra. Os jovens foram colocados lado a lado. Estavam nus, amarrados e amordaçados, enrolados em lençóis. Os corpos têm marcas de facadas e tiros.


Operação.

Nesta segunda, policiais militares do Batalhão de Choque (BPChoque) prenderam dois homens com drogas, na operação realizada no Parque de Gericinó para tentar encontrar os assassinos dos adolescentes e checar a informação de que haveria outros corpos no local. Os presos foram Romário Aguiar Vieira, de 18 anos, e Henrique José de Oliveira, de 32 anos. Não foi confirmada a participação da dupla nos assassinatos.

Outros assassinatos.

Na mesma região em que os jovens foram mortos, outras duas pessoas foram assassinadas no fim de semana.  Com marcas de tortura, o corpo do cadete da PM Jorge Augusto de Souza Alves Júnior, de 34 anos, foi encontrado no porta-malas do seu Fox, na manhã de sábado. Ele foi morto a tiros. O cadete havia participado de um baile no Clube Lisboa e foi levar uma moça em casa, na Favela da Chatuba. A polícia acredita que ele tenha sido identificado como policial - a farda estava no carro. O pastor evangélico Alexandro Lima, de 37 anos, também foi morto na mesma manhã. Ele estaria fazendo uma caminhada, quando foi atacado. A polícia trabalha com a hipótese de o pastor ter testemunhado as agressões ao cadete.


10 de setembro de 2012 | 18h 17

Coordenador de projeto diz que jovens mortos não tinham relação com o tráfico. Treinador acredita que o grupo tenha sido assassinado por estar num território controlado por uma facção rival a da área a que eles moravam

estadão.com.br

SÃO PAULO - O coordenador de projeto 'Segundo Tempo', que mantinha contato com os adolescentes encontrados mortos nesta na manhã desta segunda-feira, 10, em Mesquita, região metropolitana do Rio de Janeiro, disse em entrevista à Rádio CBN que as vítimas tinham comportamento exemplar e sem registro de envolvimento com o tráfico de drogas.

O treinador, que não quis ser identificado, acredita que o grupo tenha sido abordado por bandidos por estar no território controlado por uma facção rival a da área a que eles moram. Ele manteve contato com os jovens na última sexta-feira em Cabral, no município de Nilópolis. Os corpos dos jovens desaparecidos no último sábado, 8, têm marcas de tiros e facas. Eles foram localizados nas proximidades da Rodovia Presidente Dutra, no bairro de Jacutinga.

A Polícia Civil investiga a possibilidade de existirem mais corpos no terreno dentro do Parque Municipal Mesquita, onde os jovens foram encontrados. Os seis corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) do centro do Rio no final da manhã desta segunda. O órgão, até as 14h, não havia identificado os jovens. A polícia, no entanto, confirmou que as vítimas encontradas assassinadas são os seis adolescentes desaparecidos no sábado.




ECSTASY NO LUGAR DA COCAÍNA


ZERO HORA 11 de setembro de 2012 | N° 17189

TENDÊNCIA DE RISCO

Pesquisa aponta mudança no comportamento de usuários de drogas no sul do país, que migram do pó para a droga sintética


ITAMAR MELO

A cocaína está cedendo espaço ao ecstasy nos três Estados do Sul, conforme dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad). Na semana passada, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram os números sobre o consumo de cocaína e crack, revelando que o Brasil é o maior mercado mundial da pedra e o segundo do pó.

Adiscrepância entre os dados nacionais e os dados do Sul, no entanto, chamou a atenção da coordenadora do levantamento, Clarice Sandi Madruga, oriunda de Porto Alegre. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, a proporção de entrevistados que haviam consumido cocaína ou crack no ano anterior era muito inferior à verificada nas outras regiões, apesar de o consumo ao longo da vida não variar tanto.

Clarice cruzou dados e detectou que, ao mesmo tempo em que consumia menos cocaína do que o resto do país, o Sul usava o dobro de ecstasy. No último ano, 0,2% dos brasileiros usaram a droga sintética. Nos três Estados meridionais, o índice foi de 0,4%.

– É uma tendência observada na Europa e América do Norte, onde o consumo de cocaína está sendo substituído pelo consumo de drogas sintéticas como ecstasy. O sul do Brasil está apresentando esse fenômeno, e certamente é o Rio Grande do Sul que está encabeçando isso – afirma Clarice.

Polícia identifica fenômeno por meio de apreensões

Os dados reunidos pela pesquisadora sugerem que a migração da escolha, no Sul, ocorre principalmente da cocaína aspirada para o ecstasy, com mais ênfase entre os mais jovens. Enquanto no Brasil a cocaína foi aspirada por 2% dos adultos e dos adolescentes, nos três Estados sulinos ela foi consumida por 0,8% dos adultos e por 0,1% dos adolescentes.

– Essa é uma tendência de classe média, com um contexto cultural que envolve festas e raves – diz Clarice.

O avanço do esctasy já foi identificado pelo Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc). Conforme o delegado Joel Oliveira, diretor do órgão, as apreensões têm sido significativas desde o ano passado, motivando a abertura de investigações. Ele confirma que a droga está associada aos jovens de classe média, principalmente em festas.

– É muito nocivo e prejudicial à juventude – alerta.


Aparência inofensiva, mas altamente perigosa

A substituição da cocaína pelo ecstasy significa trocar uma droga estimulante perigosa por uma droga estimulante perigosa com imagem de inofensiva.

O psiquiatra e psicanalista Sérgio de Paula Ramos, coordenador do serviço de dependência química do Hospital Mãe de Deus, afirma que não há diferença significativa entre os dois produtos.

– É trocar seis por meia dúzia. Cocaína e crack são da mesma família, atuam na mesma região cerebral e têm o mesmo efeito farmacológico. O perigo é que o ecstasy tem a fama de não ser agressivo, tanto que é chamado de “balinha”. Os dados mostram que drogas com uma percepção de risco menor têm consumo maior – afirma.

Segundo Ramos, hoje se fala muito mais na droga sintética do que na cocaína nos consultórios médicos. A impressão do profissional é de que há aumento no consumo de uma e queda no consumo da outra.

– De tempos em tempos, muda a droga de escolha. Como o ecstasy vem em comprimido, é muito mais fácil de tirar do bolso e de tomar no meio de uma festa, o que pode favorecer que se consuma mais. Existe a ilusão de ser uma droga mais limpa, o que não procede.

Vermífugo pode estar sendo usado na confecção da droga

Um problema adicional da droga sintética é sua formulação. Inicialmente, as pílulas eram sintetizadas a partir de uma substância conhecida como MDMA, considerada menos nociva. No entanto, o MDMA é caro e tem sido trocado por outros componentes.

– O ecstasy consumido hoje é um ponto de interrogação. Não se sabe o que há na pílula. Às vezes, vai até vermífugo. É muito perigoso, porque tem fama de droga menos agressiva – avisa a pesquisadora Clarice Sandi Madruga.

Segundo Sérgio de Paula Ramos, as pílulas costumam ser um mix de estimulantes – como anfetamina e efedrina. Combinadas, explica ele, uma droga potencializa a outra.


Sérgio de Paula Ramos, Coordenador do serviço de dependência química do Hospital Mãe de Deus - ‘‘ Existe a ilusão de o ecstasy ser uma droga mais limpa, o que não procede.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

SOB EFEITO DO CRACK

ZERO HORA 10 de setembro de 2012 | N° 17188


PORTO ALEGRE - Garçom mata namorada e uma amig

LETÍCIA BARBIERI

Na tentativa de impedir que o namorado continuasse a se drogar, a auxiliar de telemarketing Karina Teixeira Gonçalves, 23 anos, foi morta a facadas. Ao intervir, uma amiga também foi assassinada.  Com o duplo homicídio no bairro Rubem Berta, na Capital, o feriadão de 7 de Setembro alcançou pelo menos 20 assassinatos no Estado entre a sexta-feira e ontem.

No crime do Rubem Berta, passava das 4h quando o garçom Diego André Marroti Borges, 23 anos, já tinha consumido três pedras de crack, misturadas a álcool e cocaína.

A essa altura, o tratamento contra a dependência tinha mais uma batalha perdida, mas Karina tentou impedir o consumo da quarta pedra. A intervenção deixou Borges descontrolado. Em busca da droga, ele desferiu facadas contra a companheira.

Thaize Pureza de Souza, 25 anos, que dividia aluguel com o casal, deixou a filha de quatro anos no quarto e tentou socorrer a amiga. Também foi golpeada.

O jovem correu para a rua em busca de socorro e ligou para a Brigada Militar. Guiou os policiais até os corpos e contou o porquê do horror.

 Ele foi preso em flagrante, e as duas facas de cozinha usadas no crime foram encontradas.

Os pais de Karina souberam da tragédia quando chegaram à casa para o almoço de domingo.


ENTREVISTA - “Estou me sentindo um lixo” - Diego André Marroti Borges - garçom

Com as mãos ainda manchadas de sangue, o garçom Diego André Marroti Borges, 23 anos, conversou com o Diário Gaúcho:

Diário Gaúcho – O que houve?

Diego André Marroti Borges – Eu misturei droga e bebida. Queria sair para buscar mais droga e ela tentou me impedir.

Diário – Era para o teu bem.

Borges – Sim, mas eu estava numa tremedeira, fora de mim. Fui no automático, peguei a faca e acertei ela. A amiga dela tentou ajudar, mas daí eu acertei ela também.

Diário – Foi por causa do crack?

Borges – Sim. Em sã consciência, jamais teria feito isso. Estou me sentindo um lixo. Quando eu levei os policiais lá, não sabia mais se eu era gente. Virei um bicho.


domingo, 9 de setembro de 2012

BRASIL DE HERÓIS E FANTASMAS


CORREIO DO POVO 09/09/2012

Oscar Bessi Filho


Na Semana da Pátria, o orgulho de ser brasileiro vem dos atletas paralímpicos. Do show de superação que eles estão dando em Londres. Espie o quadro de medalhas. Eis o Brasil entre os grandes, como deveria ser sempre na rotina deste país rico, diverso e continental. De emocionar. E talvez venha daí a explicação para a diferença de desempenho aos atletas ditos normais. Estes homens e mulheres são forjados na sobrevivência a cada passo de suas vidas. Superam, diariamente, a todo instante, preconceitos, descasos e desrespeitos. Oficiais e não. Falta de incentivo? Tiram de letra. Pois sua superação precisa estar na pele, no coração, no respirar da necessidade. Infelizmente.

Na contrapartida, a manchete do Correio do Povo da última quinta provoca calafrios. Somos o maior mercado de crack do planeta. E o segundo de cocaína. Mais uma sombria medalha de ouro e um belo alerta aos que, fingindo não ver a tragédia, erguem a bandeira da legalização irresponsável das drogas. Digo irresponsável porque está se pensando apenas em permitir, sem pensar na necessidade educacional que deve vir muito antes, preparando terreno. Sem base de consciência, sem preparar o cidadão para suas escolhas, é estimular apenas o descontrole. E condenar mais crianças à morte.

O Brasil perde oportunidades ao alcance da mão. Às vésperas de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, liderar esse ranking nefasto de destruição do futuro, me desculpem, é um atestado de incompetência. Temos no esporte um dos grandes remédios contra as drogas. Querem um teste? Percorram qualquer periferia nossa. A meninada está lá, jogada nas esquinas, à mercê da ditadura velada do crime e da violência. Aprendendo a crescer com sonhos distorcidos. Convoquem essa meninada para bater uma bola. Ou correr, saltar, competir. É só ter onde, como, com quem e um quando que se repita com seriedade e vão ver se as esquinas não se esvaziam. Se a Polícia não terá menos trabalho e os traficantes menos mão de obra barata à disposição. Os fantasmas em procissão aos pontos de crack começarão a desaparecer. Podem apostar. Mais barato que inchar clínicas e inventar leitos onde não há mais vagas nem para um aposentado encerrar seus dias com dignidade.

Enfim. Deve ser difícil. Como é difícil entender o verdadeiro sentido do patriotismo. Aliás, dia desses, num desfile escolar do Interior, ouvi a banda marcial de uma escola tocar Michel Teló em frente ao palanque oficial. Será que Dom Pedro gritou "Ai, se eu te pego" às margens do Ipiranga? Ih. Fantasmas.

domingo, 2 de setembro de 2012

LIMITES DO COMBATE ÀS DROGAS

02 de setembro de 2012 | 3h 09


OPINIÃO O Estado de S.Paulo

O Brasil, maior mercado consumidor de drogas da América Latina, passou a atuar além de suas fronteiras para dificultar o cultivo e o comércio de entorpecentes. As operações são feitas pela Polícia Federal (PF) em conjunto com agentes locais, segundo acordos formalmente estabelecidos, mas é inevitável que a presença dos brasileiros cause mal-estar nesses países, embora nem de longe lembre a oposição hostil à agora decrescente atuação dos EUA com iguais objetivos.

Como mostrou a Folha (19/8), policiais peruanos, por exemplo, externaram sua desconfiança em relação aos brasileiros, que apelidaram a ação de "nosso Plano Colômbia". É uma referência ao plano de ajuda dos EUA aos colombianos, no valor de US$ 7 bilhões, para combater o narcotráfico e os grupos guerrilheiros que se financiam por meio dele. A iniciativa, que completou uma década e costuma ser qualificada de "imperialista" por seus opositores, reduziu à metade a área de coca plantada no país e minou as narcoguerrilhas. Mesmo assim, o plano ficou longe de atingir o principal objetivo, que era reduzir o consumo de cocaína nos EUA: 95% da droga vendida para os americanos ainda vem da Colômbia.

Além disso, com o desmantelamento dos grandes cartéis colombianos, o comércio das drogas se fragmentou pela América Central e pelo México, tornando muito mais complicado combatê-lo. Por esse motivo, parece claro que o Brasil, que de simples corredor do narcotráfico passou a grande consumidor, não pode deixar de agir de modo mais abrangente contra esse crime - cujo perfil internacional demanda das autoridades ações extraterritoriais, com todos os riscos que isso implica, a começar pelo problema de ser visto como ameaça à soberania alheia.

"Erradicar as plantações é mais eficiente do que simplesmente apreender a carga. Esses pés (de coca) estão próximos à fronteira com o Brasil, ou seja, vão abastecer o mercado brasileiro", justificou o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, delegado Oslain Santana. A Polícia Federal constatou que as áreas de plantação de coca nos países vizinhos vêm avançando na direção da fronteira com o Brasil nos últimos cinco anos, o que motivou, desde 2008, a cooperação entre os países da área. Em 2011, Brasil e Peru fizeram um acordo que permite a entrada de brasileiros para destruir laboratórios e plantações em território peruano - origem de 38% da cocaína vendida aqui. Nas últimas duas semanas, foram destruídos 100 hectares de plantações. Além de brasileiros e peruanos, atuaram agentes colombianos e da DEA, a agência americana antinarcóticos.

O maior problema brasileiro, no entanto, está na Bolívia, responsável por 54% da cocaína que entra no Brasil. Há apenas 1.400 policiais brasileiros para controlar os 16 mil km de nossas fronteiras. Contudo, o presidente boliviano, Evo Morales, ainda não avalizou a cooperação, e ainda há a agravante de que a DEA foi expulsa de lá em 2008, sob acusação de fomentar a oposição. Em 2011, porém, Morales aceitou assinar, a pedido dos brasileiros, um acordo com Brasil e EUA pelo qual os americanos fornecem equipamentos e financiamento para monitorar o plantio de coca na Bolívia.

Parece haver firme determinação do governo brasileiro de atuar com mais rigor no combate ao narcotráfico, ainda que ao custo de parecer "imperialista". Além da ação fora do território nacional, houve, desde agosto do ano passado, uma série de grandes operações ao longo da fronteira, numa demonstração de força que envolveu milhares de soldados do exército e agentes da Polícia Federal. Por outro lado, porém, um dos principais projetos da presidente Dilma Rousseff para aprimorar essas ações - o uso dos Vants (veículos aéreos não tripulados) para flagrar traficantes - ainda não foi lançado, por causa de disputas na Polícia Federal e por negligência do governo, respeitando o conhecido padrão de incompetência da administração petista no uso de dinheiro público.

Por fim, o narcotráfico só retrocederá de fato no Brasil quando o mercado consumidor daqui deixar de ser atraente, seguindo a velha lei da oferta e da procura. Como mostra o fiasco dos EUA, no entanto, esse desafio requer muito mais do que a simples repressão.

MACONHA, MILHÕES E PERGUNTAS...

Jornal > Polícia

CORREIO DO POVO, 02/09/2012
 

Oscar Bessi Filho



Vamos pensar juntos: abasteceriam um Território da Paz com erva. Para os cachimbos da paz. Se a quase meia tonelada de maconha, apreendida sexta-feira pela Polícia Civil, vale R$ 2 milhões, então esta droga ainda tem um considerável valor de mercado? E não caiu em desuso, mesmo com todas as outras bem mais devastadoras, inventadas recentemente? Maconha ainda atrai a garotada? Deixa traficante milionário? Um enigma aos criadores do lucro fácil e do consumo desmedido. Afinal, foram eles que inventaram esta coisa de traficar e viciar as massas. Eles. Os mesmos que pedem desesperadamente forças-tarefas para combater o que plantaram. Uau.

Grana?! Rá! Eis a chave. Quando se movimenta uma baita estrutura de fabricação, produção e distribuição - sem contar, claro, a indispensável corrupção para se chegar até onde precisa - para trazer algo, não é para sair perdendo. Azar? Só de quem a combate. Aos que defendem a maconha com argumentos do tipo é inofensiva, aíãn, sei lá, nadavê, pergunto: por que, então, ela é tão valiosa? Calculemos. Como o quilo de maconha no Paraguai custa mil e chega a 5 mil, se nem a desculpa usual do contrabandista - preço livre de impostos - há? Baita negócio. Melhor do que a Bolsa. Aplicação de risco? Só se a Polícia aparecer.

Agora, se liberarem o consumo de maconha e outras drogas - e legalizar o tráfico, pois o sujeito vai ter que comprar de alguém - , ela ficará bem mais cara. Só de imposto. E gerará uma onda ainda maior de crimes, como roubos e furtos, praticados para financiar a sua compra pelos desesperados. Fora que o estímulo à produção gerará uma invasão de laxante nas criações de gado, pois a mistura da erva com esterco é praxe neste comércio. Ih. Vai dar desequilíbrio ambiental. Aviso por avisar.

E pergunto (por perguntar), será que há alguém de olho nos milhões que a maconha pode render? Ora, toda arrecadação também pode virar um negócio dos bons. É só saber superfaturar. Quanto valeria esta meia tonelada, com impostos? Hum. Talvez seja uma boa estratégia. No discurso, libera a droga e investe o dinheiro arrecadado na saúde. Para recuperação dos novos usuários, lógico. De quem mais? Na prática, vai piorar o que já está ruim, como vagas e atendimento em hospitais públicos. Aí, tentarão impedir o consumo, ora liberado, como se faz hoje com o cigarro. Gastando com campanhas e aumentando impostos. Mas, se um cigarrinho de maconha equivale, em estragos ao corpo, a 40 cigarros comuns fumados ao mesmo tempo, o prejuízo público não pode virar um rombo? Ih. Complicou. Só voltando com a CPMF para nos salvar. Tá. Mas só falei por falar.

sábado, 1 de setembro de 2012

TANQUES DE CAMINHÃO OCULTAVAM MACONHA

 
ZERO HORA 01 de setembro de 2012 | N° 17179
 
CARGA ILEGAL. Versão mais potente da droga abasteceria bocas de fumo de Porto Alegre


EDUARDO TORRES

Um caminhão cor de laranja, com placas de Foz do Iguaçu (PR), parado em um posto de combustíveis da Avenida Assis Brasil, no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre, chamou a atenção da polícia. Por volta das 4h de ontem, traficantes fechavam os últimos detalhes de uma encomenda de maconha, escondida nos tanques do veículo. Mas agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) chegaram ao local e acabaram com a operação criminosa.

Aação resultou na apreensão de mais de 400 quilos de maconha do tipo “skunk” (mais potente e cultivada em estufas), que abasteceriam bocas de fumo de pelo menos um bairro integrado pelo programa RS na Paz (policiamento comunitário), em Porto Alegre – o nome do Território da Paz não foi divulgado pelos policiais.

Foram presos três “brasiguaios” (pessoas com cidadania brasileira e paraguaia), contratados para transportar a droga, um paranaense, que seria o negociador, e um gaúcho, que teria chegado ao posto para fazer o pagamento e a distribuição da droga. De acordo com a polícia – que não divulgou os nomes dos suspeitos –, todos tinham antecedentes por tráfico.

– Eles vinham de Ciudad del Este (Paraguai), e atendiam a uma encomenda de traficantes daqui. Vínhamos monitorando esses contatos e agora desarticulamos mais uma quadrilha – explicou o delegado Rodrigo Zucco.

Traficantes criaram compartimento falso

Oficialmente, o caminhão tinha uma carreta carregada com sucatas para reciclagem. A droga estava escondida entre os dois tanques de combustíveis. Os criminosos criaram um compartimento falso dentro dos tanques. Em vez de circular com a carga máxima de combustível, mais de dois terços do tanque eram isolados para abrigar os tijolos de maconha.

Segundo o delegado, a investigação prossegue para desarticular outros ramos da quadrilha, e por isso o Denarc não divulgou qual seria o destino da droga. A ação da madrugada de ontem tem relação com as apreensões feitas uma semana antes, em uma operação desencadeada entre São Leopoldo e Novo Hamburgo.

– São traficantes que se beneficiam do mesmo esquema, que investigamos há mais de um ano e estamos próximos de encerrar – apontou o delegado.

Na semana anterior, entre os cumprimentos de mandados de busca no Vale do Sinos, os agentes encontraram um corpo enterrado sob uma casa que servia como boca de fumo. O cadáver, supostamente de um gerente do tráfico, continua sem identificação no Departamento Médico Legal de Novo Hamburgo.