COMPROMETIMENTO DOS PODERES

As políticas de combate às drogas devem ser focadas em três objetivos específicos: preventivo (educação e comportamento); de tratamento e assistência das dependências (saúde pública) e de contenção (policial e judicial). Para aplicar estas políticas, defendemos campanhas educativas, políticas de prevenção, criação de Centros de Tratamento e Assistência da Dependência Química, e a integração dos aparatos de contenção e judiciais. A instalação de Conselhos Municipais de Entorpecentes estruturados em três comissões independentes (prevenção, tratamento e contenção) pode facilitar as unidades federativas na aplicação de políticas defensivas e de contenção ao consumo de tráfico de drogas.

sábado, 14 de junho de 2014

FACES OCULTAS DA MALDADE


ZERO HORA 14 de junho de 2014 | N° 17828

NILSON MARIANO


DESASSISTÊNCIA SOCIAL COMBINADA com impunidade alimenta crimes e maus-tratos, dos mais rumorosos aos que, de tão corriqueiros, tornam-se invisíveis



As pessoas se horrorizam quando veem na TV as crianças feridas por bombardeios na já prolongada guerra civil da Síria, no Oriente Médio. Ficam indignadas quando alguém atira uma pedra num cachorro de rua e depois se põe a rir dos ganidos do bicho a capengar. Mas até que ponto se consegue perceber as maldades ocultas? Ou aquelas que, de tão rotineiras, já anestesiaram nossos sentimentos?

A crueldade humana é ancestral, repete-se à exaustão, mas pode assumir faces quase invisíveis – e nem por isso menos devastadoras. Um convite à reflexão foi feito no início do mês, em Porto Alegre, durante a 11ª jornada de saúde mental promovida pelo Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins (CelpCyro). A proposta foi alertar para as perversidades atuais, especialmente as silenciosas e que se alongam até virar parte da paisagem.

Presidente do CelpCyro, o psiquiatra Cláudio Meneghello Martins destaca que uma das maldades em andamento, e que parece não comover os brasileiros, é a epidemia de crack. Adverte que os 2,6 milhões de viciados no país – o cálculo é da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e inclui os dependentes de cocaína – rumam para um genocídio anunciado.

– A história mostrará esse exército de zumbis – diz Cláudio Martins, filho do escritor e psicanalista Cyro Martins (1908-1995).

Durante a II Guerra Mundial, ignorou-se o holocausto dos judeus nos campos de concentração nazistas, a humanidade demorou para notar a tragédia. Ressalvadas as proporções, Cláudio entende que miopia similar ocorre em relação aos acorrentados pelo crack. Pondera que os fantasmas do entorpecente vagando pelas cidades resultam de uma nova forma de maldade: a falta de assistência pública à saúde.

– São os maus-tratos da desassistência. Quando tiram o recurso público para a assistência, estão fazendo um maltrato geral – diz Cláudio, também diretor secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).


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